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Encontros Intra Mareenses (Português)

Updated: Aug 9, 2019

Douglas Viana: Pesquisador do Instituto Maria e João Aleixo, parceiro no projeto GlobalGRACE (WP3)


Durante o processo de preparação do PCE nossa equipe pensou bastante em como seria receber uma gama tão distinta de pessoas e suas culturas no território da Maré, tendo em vista que temos uma configuração territorial muito única e particular aos frequentadores deste território, especialmente para mim enquanto morador e atuante junto ao time do Brasil no pacote de trabalho da GlobalGRACE. Afinal não é sempre que há uma oportunidade de poder andar nas ruas da favela onde nascemos e poder falar das suas potências, poder contar as história das ruas que levam os nomes daqueles que um dia contribuíram para o desenvolvimento da favela e hoje já não estão mais conosco, ou simplesmente contribuir para que os recém chegados possam ver o quão belo e potente é este lugar cheio de vida e diversidade pelos olhos daqueles que aqui vivem.


Um exemplo da diversidade do território se deu quando os membros da equipe global fizeram uma caminhada por dentro do território da favela (foto abaixo), eu orgulhosamente compartilhei alguns momentos positivos que me trazem afeto e carinho. Como o local onde está foto foi tirada que é conhecido como Armarinho do posto que além ficar a metros da casa onde fui criado, está em funcionamento há mais de 30 anos e por curiosidade os donos deste estabelecimento são os patronos do Instituto Maria e João Aleixo, organização parceira da GlobalGRACE a qual hoje pertenço.


Além do time da Global GRACE também estão nessa foto os pais da Isabela Souza.

Enquanto morador é impossível falar desta terra sem dar o devido destaque às pessoas que aqui transitam, afinal todos que aqui passam deixam um pouco de si, como uma forma de presentear e impulsionar a mudança de paradigmas de nós mareenses. Nestas fotos estão retratadas um pouco das duas oficinas que realizamos no Galpão Bela Maré onde tivemos mais um momento de comunhão e trocas de saberes e sentimentos, momentos tão ricos e interessantes que nem mesmo as diferenças linguísticas conseguiram ser maiores.


Em uma das oficinas contamos com a presença do artista mexicano Librehem que nos motivou a desenhar de forma de forma abstrata sobre lonas, com tintas acrílicas, colorjet e bastões de tintas a óleo nas mais diferentes cores, para que desta forma pudéssemos expressar nossas vivências e características pertinentes a cada pacote de trabalho ou região de atuação e consequentemente nós do time do Brasil optamos por usar cores vivas e vibrantes, em referência a diversidade do nosso grupo. Ao fim Librehem passou em cada uma das seis lonas de cada grupo de trabalho e fez um desenho que representasse de alguma forma o coletivo ali presente, e em nosso ele quis retratar a favela e para isso fez do meu busto o modelo para retratar este território tão belo e diferente que é o Conjunto de Favelas da Maré.



Viver na Maré é entender que você está em eterna conexão com o mundo porque aqui estamos cercados pelas vias expressas linhas amarela e vermelha, ao lado do aeroporto do Galeão e envoltos pelas águas da Baía de Guanabara. É um território maior que 80% dos municípios brasileiros, com uma área aproximada de 426 mil metros quadrados e tendo uma população de aproximadamente 140.000 moradores. Vista em números é fácil se assustar e pensar que é uma loucura viver neste lugar, e de fato é uma loucura, porém uma loucura positiva que dá gosto e prazer de compartilhar com aqueles que vem nos visitar.

Poder fazer deste território meu objeto de trabalho, dá mais sentido a vida enquanto morador da Maré, pois como dito acima todos que por aqui passam deixam um pouco de si e este pouco deixado nos permite crescer e multiplicar as boas vivências deixadas, aprendidas e compartilhadas. De forma que a engrenagem nunca pare de girar e neste movimento constante possamos nos reconhecer enquanto periféricos, seja da periferia da África do Sul ou de Bangladesh. Afinal ser periférico vai muito além de ter nascido em determinado território, mas sim entender a conexão que existe daqueles moradores, com aquele determinado lugar ocupado em uma sociedade acostumada a ver as favelas pelo paradigma da ausência e que não leva em conta a potência dos moradores e da sociedade periférica.


Receber meus colegas e amigos da Global GRACE na cidade do Rio de Janeiro é algo ótimo, mas nada como mostrar-lhes a potência dos moradores de meu país Maré.

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